Há expressões do português que são pródigas na forma de expressar que se sabe de facto daquilo que se fala. Com clareza. Com precisão. Com Rigor! Isso é derivado à nossa língua ser muito antiga muito antiga muito antiga do tempo da outra senhora.
Falamos da expressão «derivado a». Melhor que «derivado a» só mesmo «Derivado à».
Fig.1. Zonas do meu ouvido que ficam afectadas quando oiço esta expressão.
A gabarolice tuga resulta nas seguintes frases maravilhosas:
«Eu vi! Ele vinha lançado!Foi derivado á chuva que o senhor da motorizada se despistou e nomeadamente foi embater na carrinha que estava ali do outro lado derivado a estar a fazer descargas de mercadoria p'ró meu estabelecimento.»
in Jornal Nacional
«Eu estava encostado ao muro da Maria Pia, ao lado do Casal, e derivado a ser amigo do Agulhas, consegui ver tudo.»
in Jornal Nacional
«A gente tem que estar mais de três horas na bicha derivado a não ter alternativa.»
in Jornal Nacional
«A gente não vai embora da praia derivado às boas condições do tempo.»
in Jornal Nacional
«Eles não fazem estradas como deve ser porque dizem que é derivado à crise, que é derivado à crise, que é derivado à crise... e a gente que é do povo é que vê que eles querem é taxo.»
in Jornal Nacional
Ficámos a aprender que:
- o Jornal Nacional é um respeitoso formador de bons falantes do Português derivado à repetição dos exempos;
- o «porque» é uma palavra banida pelo Jornal Nacional;
- o Jornal Nacional só faz entrevistas de rua a pessoas que digam «derivado a» pelo menos 150 vezes na mesma frase;
- tudo acontece derivado a qualquer coisa: o pitróile está caro derivado à guerra, o Sporting não vai à Liga dos Campeões derivado ao Benfica e «A Vida é Bela» é um bom pugrama derivado aos convidados.
Não explicam. Ninguém explica. E depois proíbem! Não é?
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