Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

quarta-feira

Carta de um oxigenodependente

Tabaco: breves considerações estúpidas

«Caro amigo oxigenodependente:

Sair desta droga é possível!

Eu gostava de inalar oxigénio. A vida tem destas coisas, pronto. Por causa de um capricho da adolescência, não pude até há pouco tempo passar sem ele.

Foi desde a minha juventude que comecei a inalar oxigénio. Foi - pronto, pronto, eu reconheço - para me afirmar. Assim, por exemplo, quando ia para trás do pavilhão inalar aquela coisa viciante que vem das folhas das àrvores, tinha sempre montes de miúdas que iam lá para ‘tar no chillout uma beca e coiso:

PITA 1: «Olha o Ruca»
PITA 2: «Todo grôsse»
PITA 1: «Podes crer. Vê lá: o gajo até inala oxigénio!»
PITA 2: «Ouv’! G’anda maluco! Baza lá inalar com ele»

Ah!, nostalgia... Como eu gostava de inalar oxigénio! A vida tem destas coisas, sabes? Agora, por causa de um capricho da adolescência...?

Dantes, uma pessoa até se sentia mal de não fumar, ao contrário das pessoas normais, percebes? Era - como dizia a minha avó açoriana - um autêntico «gândûle».

«Ruca! Anda cá à avó! Ááái. Com que então a respirar, hein? Isso faz-se?»

É que... uma pessoa ia a qualquer lado socializar - ele era a um bar, ele era um restaurante, ele era a uma repartição de Finanças - e estava sempre rodeados de gente a fumar... que lançava aquele olhar discriminatório de «Olha-lá-vai-um-dos-que-não-fuma», ou então de «Chispa-daqui-ò-drogado!»

Eu gostava de inalar oxigénio. A vida tem destas coisas, pronto. Por causa de um capricho da adolescência, não pude até há pouco tempo passar sem ele. Mas, meu amigo, foi possível recuperar. E tu - sim, TU!, também podes conseguir!

Deparo-me muitas vezes como tu, amigo oxigenodependente, com a situação chata e deveras vergonhosa de ter o meu oxigénio a estragar o tabaco dos outros - dos normais. Mas onde é que isso já se viu? Hmmm?

Por exemplo, numa paragem de autocarro, num dia destes em que chovia a potes, a cântaros, ... todos se abrigavam debaixo daquela abençoada protecção.

Nestas condições, era muito complicado para mim, oxigenodependente, conseguir sustentar o meu vício porque pura e simplesmente a micro-atmosfera do raio da paragem era pura nicotina.

Foi então que tomei uma decisão que viria a mudar - mas profundamente! - a minha vida.

Decidi passar a ser mais educado com os fumadores - a ser mais compreensivo, ... mais atencioso,...mais simpático, ...a comprar-lhes gelados, a fazer-lhes festinhas,... e pedir-lhes gentilmente que me deixassem não fumar. Sim porque o drogado era eu. Eu é que era o viciado em oxigénio!

«Olhe, desculpe, eu não o queria estar a incomodar muito com o meu oxigénio,... mas... o senhor... poderia fazer ... obséquio de... me deixar... não fumar?»

RESPOSTA 1. - «Vai-te foder, ó gandulo! Yu queres é oxigénio!

RESPOSTA 2. «Jovem: sabias que podes apanhar SIDA? Não te metas por maus caminhos. Não respires Oxigénio.»

Foi então que decidi, como naquele anúncio do BCP do «Aqui vou ser feliz», que queria converter-me à normalidade, sabes? Sim, porque o corpo humano não foi feito para estas substâncias pesadas. Nicotina é que é!

Agora, tudo mudou! Oxigénio? Isso era d’antes! Agora sou fumador passivo e sou feliz!

Tem muitas vantagens:

a) Fuma-se mais
b) Fuma-se sem pagar.
c) Não precisamos de isqueiro
d) Não é preciso trocar de cigarro

Ainda assim, todo o meu processo de profunda reconversão interior ao Tabagismo não se deu de forma completamente eficaz. Continuo com uma dúvida existencial que é - ao fim ao cabo -o sentido da minha vida. Procurarei eternamente resposta para a questão: para que é que serve fumar?»

Geraldino

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