Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

quarta-feira

Tarefas penosas

Coordenar

Aqui há dias - há uma semana-e-picos - fui confrontado com a existência de um posto profissonal pelo qual passei a sentir uma profunda admiração. O coordenador.

E o que é que faz concretamente um coordenador?, perguntam vocês e bem, como de costume.

O coordenador coordena toda a coordenação por forma a que tudo saia coordenadamente coordenado, desde que no entanto - sublinhe-se a advertência - trate de uma realidade susceptível de alguma coordenabilidade.

Mas aí ouvem-se algunsde vós - mais cépticos, mas também mais perspicazes - tecer as seguintes considerações:

«a) - Ah, mas essa definição de coordenador afigura-se-me como manifestamente insuficiente, para não dizer atentatória tanto de uma clarificação conceptual transparente como de uma fixidez significacional que delimite com exactidão o campo semântico do termo;

b - e, já agora, que contributo terá a dar um coordenador para um projecto civilizacional de Humanidade mais feliz ou, pelo menos, incentivador da saúde da economia mundial?»

Pois bem. Quanto à questão da definição, é clara como eleições em países africanos. Relativamente ao segundo problema, devemos dizer que sem coordenadores, tudo estaria descoordenado. Se temos um ou outro aspecto da nossa vida em que existe alguma coordenação, é graças aos coordenadores, que tanto suor deixam na árdua tarefa de coordenar.

Por isso, Portugal precisa de coordenadores. Urge apostar no capital humano - educando, formando, pá, sim, isso, formando! - para que entrem no mercado de trabalho recursos humanos com competências coordenativas.

E é um cargo motivante. Por que não - qual sacerdócio - seguir esta vida da coordenação?

1. O estatuto

Desde logo, só de pronunciar. Co-or-denador. Para obter o mesmo efeito de andar de descapotável numa marginal algarvia em Agosto, mas no trabalho, também se pode colocar a palavra numa chapinha, no blazer.

2. A necessidade

Já pensaram bem na falta que faz ter um coordenador por perto no trabalho?:


- Ó queléga, com'é que se faz isto?

- Não sei, iss'é melhor falar com o coordenador.



- Ó queléga, com'é que se faz aquilo?

- Não sei, iss'é melhor falar com o coordenador.



- Ó fáchavôr, aprovam-me o orçamento, ou não?

- Não sei, meu caro; Isso cheira-me a assunto para marcar uma reunião com o coordenador.


3. A dinâmica

- Bláblábláblá e - ui - agora com o NIKKEI a adequar-se à tendência europeia da subida do preço do leite em pó...

- Shhh!

- ...

- O coordenador está no escritório a coordenar.



4. O reconhecimento

Há profissão com mais reconhecimento que a de coordenador?

- Ena. Há tanto tempo que não te via.
- Pois, agora estou a trabalhar.
- Ai é? Ena. O que é que fazes?
- Sou coordenador.


E é logo outro respeito.

terça-feira

Portugal precisa é de coca I

a) para animar a procura interna?


Temos que ser medérnos, pá. Ôpénmáindes.

Era bom - óptimo - que vivêssemos num país, hã?, que não tivesse preconceitos pá com as pessoas q'usam droga. Ond'é q'já s'viu? Hmmm? Uma pessoa não pód'agora desinibire? Hmm? Por q'é que não somos como os países ká-lá-fora? Hmmm?



Fig.1 - Pai numa atitude pedagógica: Ond'é q'já s'viu? Hmmm?


Atão não sería bom, quase a roçar o agradável, ir ao supermercado e dizer:

- Olhe, bom dia, eram duzentas de coca.

- Bom dia, Don'Arlinda. 'Tá boa?

- Ah, vai-se andando, vai-se andando. A espandilose lá m'anda outra vez a arrepanhar as costas...

- Isso é que é mau, isso é que é mau. Então são duzentas, não é?

- Pois. Ponha maizómênos. É q'aminha máinóva diz q'lá na escola qu'é muito caro, qu'é muito caro, qu'é muito caro e assim, olha, eu faço-lhos e ela leva-os já enroladinhos de casa dentro dum tamparuére.

- Faz bem, faz bem, [qu'isto 'tá mau, sabe?, mais vale fazer qdo que comprar feito, é o que é...]. Vai desejar levar também palhinha para a sua filha?

-Ai, obrigadinha, don'Ódéte, mas a minha mais nova gosta mesmo é de a fumar, sabe? Porq'ela - tsc - já 'tá uma melhér e sabe o que quer. Olhe, veja lá q'inda no outro dia veio ter comigo arreliada, arreliada, arreliada, que lá na escola diz-q' todágente faz carreirinhas de coca e começam a fungar pela palhoca, e q'aquilo q'é'ma moda, é o que é. Ela não. Ah!, ela - q'é muit'inteligente e q'me disse 'inda no outro dia q'está a pensar inclusivamente em entrar pá óniversidade, hã? - diz q'é tud'uma imitação pegada. Ai pá.

- Realmente bláblábláblá...


Mas aí, entrarão certamente alguns de vós e dizem: "uma coisa é cocaína; outra são drogas leves".

Pá,-tá-bem, mas sucede que são os próprios utilizadores da cocaína - eles mesmo, [hã?] - a dizer que não vicia nada e q'é coisa levezinha - coisa para caír bem com um peixinho grelhado e c'uma batatinha a acompanhar.

Portugal precisa é de coca II

b) para recuperar a confiança dos consumidores?



Acorde para o fim de semana com o fresco perfumado da manhã e junte a família para um apetitoso pequeno-almoço. Comece pela vitalidade de um delicioso sumo de alperce natural. Depois, acompanhe com uma aromática e estaladiça torrada de pão de trigo cultivado nas ondulantes searas alentejanas. Por fim, o momento alto da manhã. A simplicidade de uma levíssima colher dos brancos grãos que tudo adoçam, a toda a hora, onde mais lhe convém.

Coca sul-americana SuperCalidad. 35.99 eur.-/gr. Esta semana. No...

Portugal precisa é de coca III

c) para esbater as desigualdades?


Tens o hábito de andar com o Destak bem enroladinho? Gesticulas muito em zonas de elevada densidade urbana? O teu sonho era andar de tampões para os ouvidos no aeroporto e com aquelas luzinhas de sinalização na mão a acomodar aviões? Tens hematomas?

Então - pá, lamento - mas és efectivamente toxicodependente.


Tens um bom emprego? E o(a) belo(a) do(a) gajo(a)? Pois, desculpa, dos(as) gajos(as). É conforme as festas, não é? Lês o Der Spiegel?, a The Economist? Snifas coca? E não tens hematomas, pois não?

Ah!, espera, que sendo assim, temos aqui uma pessoa - que sim senhor - para quem'ma snifadelazita, por entre outra, por entr'outra, por entr'outra já não faz mal a ninguém.


Toxicodependente: é o hematoma que faz toda a diferença.

sábado

Margem sul em obras

As obras na Margem Sul

As obras na margem sul têm sido um tema que tem merecido a mais profunda das reflexões por parte dos estupidólogos da região, sobretudo dos que andam de carro e que aspiram - ah, sonho da meninice - a descobrir um caminho alternativo para o seu destino.

Por exemplo. Supônhamos. Uma pessoa quer ir para a Costa. Pois que sim, que lá vai ela, toda contente. Quando chega lá, pimba, obras. Programa Pólis.

Uma pessoa lá chapinha e lá faz uns castelos com o balde, enfim, meio desacorçoada com as camionetas de pedras, até que se maça e se vai embora. Apanha o IC20 e entra na Estrada Nacional 10 (EN10), porque ainda tinha que tratar de vidas em Almada, de maneiras qu'era a caminho.

Depois, passa á Cova da Piedade, obras. Sobe até à entrada do Laranjeiro, faz um slalom por entre as retroescavadoras e obras. Prepara-se para sair do Laranjeiro e vê o que? Vá, digam comigo. Obras - para o metro de superfície.

Por causa da bicha, uma pessoa resolve contornar a EN10, as obras e o trânsito, fugindo pelo Miratejo para reentrar em Corroios.

Nisto, uma pessoa vai para reentrar em Corroios e obras - viaduto p'ó supermercado novo.

Lá se reentra na EN10 e uma pessoa já começa inclusivamente a sorrir de não ver obras. Mas, antes de saír de Santa Marta e passar ao Muxito, obras - metro. Uma pessoa lá faz o desvio pela paralela à EN10 de maneira a entrar na Cruz de Pau. Sim senhor, lá vai, lá vai, lá vai e - pimba - obras - diz-qu'é um túnel p'ós carros.

Bom, sem outra alternativa, uma pessoa lá vai por estradas e estradinhas até chegar a uma terra chamada Paivas. Chegando aos primeiros semáforos, obras - diz-qu'é para transformarem a rotunda em cruzamento. Chegando aos segundos semáforos, obras - diz-qu'é para transformarem o cruzamento em rotunda.

E uma pessoa - depois de entretanto ter tentado ir ao Pingo Doce, que encerrou para obras - lá chega finalmente a casa. Lá dorme, que no dia a seguir tem que coiso, de maneiras que é sempre importante descansar.

E no dia seguinte, uma pessoa lá se levanta, lá mete o seu creme hidratante e um áiláinérzito ao de leve e vai á vida.

Lá se mete no transporte para rumar ao Seixal. Nisto, e pela má experiência do dia anterior, uma pessoa resolve a todo o custo evitar a EN10 e decide ir pela estrada que vai dar ao Continente. Primeiro atalho, obras - fechado. Segunda alternativa: ir pela EN10 - fechado, obras.

Pois que a alternativa era ir rumo à rotunda do Continente - curiosamente, também em obras porque diz-qu'aquil'agora vai ser um centro comercial dos grandes - e seguir finalmente até ao Seixal, sem mais demoras.

Chega ao fim da semana, o qu'é q'uma pessoa resolve? Fugir. Uma pessoa lá dá um saltinho até Tróia, p'ra ver se espairece. Uma pessoa lá se mete na via rápida. Obras. Diz-qu'é p'ra ter mais uma faixa.

Chega a Tróia, obras. Diz'qu'aquilo vai ser tudo terraplanado e qu'vai pr'áli um casino.

sábado

Discursos pré-formatados II

O texto bloguístico de interesse universal


Eu eu, eu eu eu. Eu? Eu. Eu eu eu eu eu eu, eu, eu eu eu. Eu eu eu... Eu? Eu. Eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu. Eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu. Eu? Eu eu eu eu eu eu eu eu eu, eu, eu eu, eu eu eu, eu eu eu eu eu, eu eu eu eu eu eu. Eu eu eu eu eu eu eu! Eu, eu, eu, eu, eu... eu... Eu eu eu eu! Eu eu? Eu. Eu. Eu eu eu eu.



Fig.1 - Eu

Eu. Eu eu, Eu eu, eu: eu - eu - eu, eu... Eu. Eu, eu eu eu eu eu eu eu - eu eu eu eu eu eu eu eu - eu eu eu eu; eu eu eu eu... eu eu eu eu eu, eu eu eu eu, eu eu eu eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu. Eu. Eu, eu eu eu eu eu eu eu eu «eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu».

Eu eu eu:
Eu, eu...
Eu eu, eu eu
Eu.
Eu eu, eu eu
Eu...

Eu, eu...
Eu eu, eu eu
Eu.
Eu eu, eu eu
Eu...

Eu - eu eu - eu,
Eu eu.


Eu



Eu eu? Eu eu eu? Eu eu eu eu eu? «I, je, yo, ich,...»? Eu eu eu,eu eu eu eu.

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