Quase tão interessante quanto acender um fósforo depois de ter aberto o fogão há dez minutos é pedir água num restaurante enquanto o empregado nos faz a cara mais perplexa que consegue.
«Água? Perdão. Pediu... àgua??», como quem diz «Desculpe, ninguém pede água!»
Aconteceu-me. Tudo bem que estamos em crise e sempre dá mais algum ao restaurante pedir - sei lá - um Jói, ocorre-se-me, mas não era preciso um marketing tão agressivo.
Fuzilou-me com um olhar de reprovação. Se tivesse mandado vir uma valente ganza para fazer tempo para as entradas, tudo muito bem, que sim senhor, que era de homem. Mas água?
O que eu tinha acabado de fazer: o zeloso empregado ficou ali especado atrás de mim, a anotar o pedido. De bloco na mão, passou-se um minuto. Dois. Três. Quatro. Meditou profundamente sobre as influências hispânicas no património musicológico do Panamá. Cinco minutos.
Quando - finalmente - o seu cérebro de físico nuclear bielorrusso conseguiu decifrar a mensagem, disse: «Água foi o que disse, então».
Acenei-lhe e confirmei. Pá, apetecia-me água. Pronto. Queria água. Pronto. Qual era o problema?
Senti-me um criminoso. Quando o senhor se retirou para a cozinha, só faltava ter ligado para a esquadra enquanto tapava o bocal com a mão e espreitar sussurrante por detrás da porta: «Boa noite, queria fazer uma denúncia. Está aqui um cliente que pediu ág... ág... gasp... É um moço alto, baixo, louro para o moreno, magro, gordo... Sim, sim, Caramulo sem gás... »
Quer-se dizer, «água não, água não», mas se eu tivesse um Uno 1.0 cinzento rebaixado até à Nova Zelândia com os vidros fumados, uma risca verde e um spoiler a dizer «Tuning não é crime», vá, aí estava tudo bem. Mas água?.
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