Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

segunda-feira

Orachão a chalajar



Salazar,

tem-se dito muita coisa injusta acerca do teu recente reconhecimento público. Que és sinónimo de inutilidade. Que és sinónimo de inflexibilidade. Que és sinónimo de cinzentismo. O que é certo é que ganhaste, o que me leva a extraír algumas conclusões.

1.És um útil. Muita manteiguinha tenho eu espalhado, muitas formas para bolos tenho eu untado, tudo graças a ti; no fundo, és um útil porque sem ti, a pastelaria doméstica e tradicional não seria a mesma. Quem estuda a História da pastelaria doméstica e tradicional sabe que há um período antes de salazar e depois de salazar. És a entrada para a união europeia da pastelaria doméstica e tradicional.


Fig.1 - Salazar branco e salazar azul

2. És um flexível. A tua extremidade é feita de uma borracha semi-rígida que se adapta às bem às paredes das formas. Se fosses monolítico como dizem, eu preferiria usar antes uma colher; no fundo, és um querido porque facilitas as coisas. Manteiga? Venha. Chocolate? Venha. Creme de ovo? Venha. És inclusivo e plural.

3. És um cinzento sim, mas não só. Também és branco, preto, azul, ou transparente com motivos hortícolas. O motivo hortícola dá-te um ar agrícola. O transparente veste-te de gala.

Se me permites, salazar, uma quarta conclusão. Há muita gente em Portugal a perceber de utensílios de cozinha e que dá valor ao papel do salazar no âmbito da pastelaria doméstica e tradicional. A ponto de tomar a iniciativa de ligar para um número de valor acrescentado todas as semanas para manifestar que te valorizam, que não te esquecem, e que sabem que há mérito, que tens capacidades, capacidades essas focalizadas no raspar, um raspar que dá alegria às pessoas.

Dorme bem, e onde quer que estejas, lembra-te: serás sempre idolatrado por pessoas que simultaneamente gostam de pastelaria doméstica e tradicional, e que tomam a iniciativa de ligar para números de valor acrescentado todas as semanas para manifestar que tu estás lá.

quinta-feira

Vamos "aquemular"

As pessoas não têm noção mas a seguir aos dentífricos contra a erosão ácida, a coisa mais útil que existe no modo de vida ocidental são os cartões. Isso nota-se não só em toda a quantidade que avoluma a minha carteira como também na forma desprezista como seguro cada um deles no momento em que os uso.

Charme, estilo, cosmopolitanismo: prendo cada um deles entre o indicador e o médio enquanto ajeito os óculos escuros que costumo usar na cabeça e provoco um desnivelar de sobrancelhas, como que a enrugar levemente a testa.

O ritual é sempre o mesmo. "Tem o cartão XYZ?" Depois, vem o melhor. Faço um leve aceno confirmativo, abro a carteira, dedilho por entre os cartões, como quem diz "ora bem, procedamos a coisas", retiro do cartão, mostro-o, validam-mo - pi -, devolvem-mo, acondiciono-o, fecho a carteira, qual LAPD, e enfio-a no bolso. Meus senhores: estilo.

Porquê cartão? Por quatro razões. Porque cartão é dinamismo. Porque cartão é estatuto. Porque cartão é "tou sim?, agora não posso que estou aqui a tratar de assuntos". Porque cartão dá "facelidade" em coisas.

Sou uma pessoa que usufrui do benefício do Cartão. Cartão Minipreço, cartão Sprinfield, cartão Continente, cartão Galp, cartão Zara, cartão Repsol, cartão Fnac, cartão Decathlon, cartão Jumbo, cartão Blockbuster, cartão Casa dos Frangos de Moscavide.

E porquê? Porque os descontos é uma coisa que "aquemula". Vai "aquemulando", "aquemulando", "aquemulando" e depois ganho descontos em todos esses sítios onde passo uma percentagem substancial da minha vida.

Desfolhar



Ele é revistas. Ele é jornais. Ele é a lista telefónica. Muito "desfolham" os portugueses. Fico triste. Com tanta mulher bonita e.

terça-feira

Honoris Causa

"Foi criada uma secção no menú lateral denominada de "Estupidologia - Ouve Aqui" (...). A vossa sanidade mental não está salvaguardada. Mas ouçam à mesma."


Programa 1

Programa 2

Programa 3

Programa 4


Parecendo que não, promover a estupidologia enquanto paradigma estruturante do saber humano dá estatuto académico e, vá lá, uma certa vaidade. Quando uma pessoa anda sempre, como eu, com a maior das naturalidades, com a sua toga e traje preto, com um rolo de papiro enrolado na mão, as pessoas comentam "bzbz, olha, lá vai o estupidólogo, bzbz". Vêm ter comigo e pedem-me a opinião sobre coisas, mesmo que eu esteja com o cesto das compras no antebraço na secção das hortaliças.

A mim e não só. A um restrito conjunto de pessoas, todas elas acostumadas a andar de toga, de traje preto e com um rolo de papiro enrolado na mão, nas mais variadísimas situações de convivência, nomeadamente social.

António Marçal, Pedro Gabriel e Tiago Florêncio são estupidólogos incontornáveis porque conseguiram que um programa de rádio com o nome "estupidologia" existisse. Desculpem, há mérito. Se é já de si whatthefuckiano que alguém chame a um blogue "estupi..." coiso, muito menos a um programa de rádio. Era o que faltava agora levar o saber ás pessoas. Muito menos na parte da noite. Muito menos numa rádio. Já é incomodar.

Primeiro, na cadeira de Atelier de Rádio, na universidade, depois, pela região da Grande Lisboa onde o sinal 97.8 da Radar chegava, quais jardineiros, dedicaram-se à disseminação - cirúrigica - das sementes do saber estupidológico. Pedro Gabriel, no seu blog, faz-me recordar dos tempos de universidade e pós-universidade ao disponibilizar programas que andavam perdidos na minha memória...

quinta-feira

Post extremamente positivo

Hoje estou extremamente bem disposto. Tão bem disposto que até vou escrever a palavra yupi.

Confesso que, por instantes, houve uma ténue hesitação entre a palavra "yha" e o intemporal grito de Speedy Gonzalez "Anda-le, anda-le!, arriba, arriba".

Mas optei pela palavra yupi.

"Yha" é uma alegra para o abrutalhado. E a minha alegria de hoje não é para o abrutalhado. Já "anda-le, anda-le!, arriba, arriba" é uma alegria, também ela, de índole equestre, mas com um toque mexicano. A minha boa disposição de hoje não só não é de índole equestre como também não é, de todo, mexicana - embora eu tolere, com reservas, que seja servo-montenegrina, ali com um polvilhar de xiita.

Yupi sim, é uma opção semanticamente mais aproximada do meu estado de espírito. Yupi tem celebração, tem serenidade, tem ponderação, com a vantagem de fazer lembrar sobemesas lácteas da década de 80. Não é fácil encontrar palavras que traduzam o nosso estado de espírito e que ao mesmo tempo nos consigam fazer lembrar sobremesas lácteas do final da década de 80.

Yupi é uma palavra que não pára de surpreender. É que, mesmo do ponto de vista sintático, ela inclui um i grego no princípio e um i latino no fim, o que confere equilíbrio á forma, enquanto denuncia uma alegria que não ofende, balanceada, tolerante, no conteúdo.

E de maneiras que hoje estou extremamente bem disposto. Tão bem disposto que até vou escrever a palavra yupi.

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