- ... e de maneiras q’acabei tudo c’o Carlos Emanuel. – dizia por entre a confusão uma voz feminina e pouco contida, que vinha de um dos longínquos bancos da frente do autocarro.
- Que se passou? – correspondeu a outra, deixando de remexer o saco do supermercado que levava no colo.
- Veio ter comigo a dizer . tsc - que não sei quê, que não sei que mais e – vê lá tu o desplante – que ist’e mais aquilo.
- Ai ele fez isso? Como pôde ele ter dit... ? Coitada. Deves ter ficado mesmo muito magoada!
- Ah pois, que fiquei arreliada. Mas – o que é que tu ju'gas? - eu disse-l'e log’ali: Carlos Emanuel, está tudo acabad'entre nós!
- Bah! Foste lá capaz de dizer iss’ao teu homem... então alguma vez ias deitar fora dessa maneira doze anos, oito meses, uma semana e quatro dias de amor assim 'ó ar, assim 'ó ar, assim 'ó ar?
- Ah, pois fui! – exclamou com propriedade, por entre um queixo erguido e uma sobrancelha semicerrada.
- Então e ele? E ele? E ele? – correspondeu esbugalhando os olhos como quem espera o resultado da votação da quinta das celebridades.
- Ele disse m’assim: «Maria Arlete: mas eu, mas, mas, mas...».
- Ainda por cima? Ah!, mas que descaramento...! Toda a gente sabe que isso é daquele tipo de coisa que não se diz entre duas pessoas que têm um – ai, com’é q’diz agora a malta nova? – relanssiunamento...
- Pois. Mas isso faz tudo parte do passado porq’agora – ah!, agora... – posso assumir tudo c’o Zé Pires.
- ... e de maneira que acabei tudo c’o Zé Pires... - dizia uma voz feminina, vinda de um dos bancos de trás.
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