Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

sexta-feira

Peculiaridades do Natal português


Há dezenas de tradições de Natal particularmente portuguesas. As rabanadas. A ceia. O azevinho. O presépio no musgo. As felhozes. A missa do galo. O bacalhau. E - de longe a melhor- passar décadas na fila dos embrulhos numa grande superfície comercial.

Tuga que é tuga corre tresloucadamente - qual José Castelo Branco em direcção à sua paxemina - para onde quer que cheire a GRÁTIS.

É o caso da fila dos embrulhos.

Não. Não importa que seja preciso tirar senha para guardar a vez. E não, não importa que lá se passe quase tanto tempo como o que se gasta a fazer compras, quando se pode poupar dinheiro em papel. E - não!, de maneira nenhuma - não importa que só haja fitas castanhas escuras e papel roxo quando finalmente chega a nossa vez.

Mas perguntam vocês - sempre atentos e perspicazes observadores do tuguismo, esse curioso fenómeno sociológico - já de mãozinha na anca e o pezinho a-dar-a-dar: «Olha-m'este... Querias o quê? Há ursos, não? Então como é? E aquelas pessoas que têm muita pressa e muitos embrulhos para fazer e não-sei-quê? Vão fazê-los em casa, é?».

Indagado a este respeito, o proeminente intelectual luso-brasileiro, Prof. Dr. Est. José Gerivaldson Schneider Dias, licenciado em Fisioterapia da Gaivota, em Hermenêutica Suméria e em Estupidologia Aplicada, considera que «se o genuino tuga - essa espécie - estivesse efectivamente com esse tipo de predisposições acelerativas, por ventura decorrentes dos complexos e diversificados estímulos do meio envolvente, nomeadamente de todo um dinamismo socio-cultural, comportamental, idiossincrático, simbolico-sígnico, psico-convencional, económico, sincretico-sistemático e/ou mesmo historico-ideológico gerado durante a época das festividades natalícias, não se sujeitaria a todo um processo de atabalhoamento humanídeo que, numa análise fenomenológica, assume características que poderiamos enquadrar, sob parâmetros taxonómicos rigosrosos, na classificação de "rebanhófilas"».



E - ah, suspiro inundado de felicidade! - como é agradável ouvir as pessoas, pacientes como peixes fora de àgua, na fila para os embrulhos, embebidas no verdadeiro espírito do Natal, a falar compreensivamente, qual político em campanha eleitoral:

«Ó minha senhora: 'xculp'lá, não s'estique, hã, mas eu 'tou primeiro, q'eu chiguei ódepois daquele senhor ali q'tá a ser atendido, hã?», (...)

... ao que a visada responde melosamente, sempre consciente de que se celebram nesta bonita quadra os valores da harmonia, da caridade, da solidariedade, da benevolência e da paz no mundo: «Vá pastar pr'alem, ó ...».


Ai ele é de borla? Ai ele 'tão a dar? Então 'bora, antes q'acabe, pá. E vivam as filas para os embrulhos no hipermercados dos subúrbios ao Sábado à tarde!

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