A dúvida metódica
Meus amigos, bem sabeis que a estupidologia não tem produzido conteúdos teóricos com a mesma regularidade por uma razão muito simples. A verdade é que - pronto, pronto, assumamo-lo sem preconceitos - temos estado deveras ocupados a investigar o fenómeno «Como-assim?»
Mas aí entra o caro leitor, que desde logo se auto-indagará de forma problematizante e sistematico-reflexiva: «como assim?».
Bom, levantar uma dúvida deste calibre - e quão fundo penetra ela no fundamento das coisas - implica desconstruir toda uma realidade convencional de partilha de códigos, de regras, de entendimentos, de costumes, enfim, das mais básica das unanimidades significacionais.
Quem o faz - fiquem a saber - são os indivíduos que têm a tendência compulsiva para duvidar do que lhe dizem. «Como assim?», demandais vós novamente.
Pois bem. Expliquemos melhor:
«- Ah, e tal, vou passear o cão.
- Como assim? (...)»
Ora... perguntamos nós a quem sofre do síndroma de «como-assim»: qual é a dúvida? Qual é a dificuldade...? Qual é a parte do "vou passear o cão" que não se percebe?, Poderíamos responder-lhes:
« (...) - Ah, e tal, "Vou" é a conjugação do verbo "ir" na primeira pessoa do singular, o qual se refere a um ´"eu" implícito, que é o enunciador da frase. Passear, por sua vez...»
Mas a isto retorquir-nos-ia um doente do síndroma de como-assim
« (...)- "Enunciador da frase"??? Mas como assim?»
- O enunciador é o responsável pela codificação e emissão da mensagem. É o produtor de significações. Percebes? Mas, voltando à vaca fria, passear – perguntavas tu a propósito daquela frase "vou passear o cão" - por sua vez, é um verbo que pretende transmitir a ideia de espairecimento...
- Como assim?, "espairecimento"?
- Sim, espairecer. Relaxar. Andar. Descomprimir. Percebes?
- Ah...! Sim ...quer-se dizer, mais ou menos ... Para ser sincero(a) não percebi bem, bem, bem, bem, bem. Como assim?, relaxar? Tsc, tsc. Eu posso passear e não relaxar. Olha, olha. Quando eu saio não ando relaxada... Olha, olha... ’tás-me a chamar alguma coisa, é? Tsc, tsc. Olha que eu não sou como os travestis da rua de Santa Marta, hmm?
- Hmpf... mas, voltando à vaca fria, por sua vez "o" - perguntavas tu a propósito daquela frase "vou passear o cão"– é um determinante do género, neste caso masculino, do cão que o sujeito foi passear. Por fim "cão" quer dizer...
- Determinante? Como assim? Nada te garante que aquelas pessoas vestidas de mulher em Santa Marta o são. Olha, olha... Isso depende! Olha, olha. Sabes lá tu se o cão tem a sua sexualidade determinada! Olha, olha...
- Grunfnh... - disse eu enquanto revirava os olhos - e "cão" é um mamífero domesticável de quatro patas que pode caçar, guardar ou simplesmente fazer companhia.
- Como assim? Então o meu namorado é um cão?
- Percebeste gora o que quer dizer "Vou passear o cão?"
- Como assim?
A estupidologia está a tentar fazer pressão junto do Ministério da Saúde com vista à abertura de um número verde de apoio aos doentes de como-assim. Por enquanto, qualquer esclarecimento que necessitem acerca da sintomatologia desta doença duvidista, por favor façam-na chegar ao nosso email, que trataremos de a reencaminhar imediatamente para um especialista.
Meus amigos, bem sabeis que a estupidologia não tem produzido conteúdos teóricos com a mesma regularidade por uma razão muito simples. A verdade é que - pronto, pronto, assumamo-lo sem preconceitos - temos estado deveras ocupados a investigar o fenómeno «Como-assim?»
Mas aí entra o caro leitor, que desde logo se auto-indagará de forma problematizante e sistematico-reflexiva: «como assim?».
Bom, levantar uma dúvida deste calibre - e quão fundo penetra ela no fundamento das coisas - implica desconstruir toda uma realidade convencional de partilha de códigos, de regras, de entendimentos, de costumes, enfim, das mais básica das unanimidades significacionais.
Quem o faz - fiquem a saber - são os indivíduos que têm a tendência compulsiva para duvidar do que lhe dizem. «Como assim?», demandais vós novamente.
Pois bem. Expliquemos melhor:
«- Ah, e tal, vou passear o cão.
- Como assim? (...)»
Ora... perguntamos nós a quem sofre do síndroma de «como-assim»: qual é a dúvida? Qual é a dificuldade...? Qual é a parte do "vou passear o cão" que não se percebe?, Poderíamos responder-lhes:
« (...) - Ah, e tal, "Vou" é a conjugação do verbo "ir" na primeira pessoa do singular, o qual se refere a um ´"eu" implícito, que é o enunciador da frase. Passear, por sua vez...»
Mas a isto retorquir-nos-ia um doente do síndroma de como-assim
« (...)- "Enunciador da frase"??? Mas como assim?»
- O enunciador é o responsável pela codificação e emissão da mensagem. É o produtor de significações. Percebes? Mas, voltando à vaca fria, passear – perguntavas tu a propósito daquela frase "vou passear o cão" - por sua vez, é um verbo que pretende transmitir a ideia de espairecimento...
- Como assim?, "espairecimento"?
- Sim, espairecer. Relaxar. Andar. Descomprimir. Percebes?
- Ah...! Sim ...quer-se dizer, mais ou menos ... Para ser sincero(a) não percebi bem, bem, bem, bem, bem. Como assim?, relaxar? Tsc, tsc. Eu posso passear e não relaxar. Olha, olha. Quando eu saio não ando relaxada... Olha, olha... ’tás-me a chamar alguma coisa, é? Tsc, tsc. Olha que eu não sou como os travestis da rua de Santa Marta, hmm?
- Hmpf... mas, voltando à vaca fria, por sua vez "o" - perguntavas tu a propósito daquela frase "vou passear o cão"– é um determinante do género, neste caso masculino, do cão que o sujeito foi passear. Por fim "cão" quer dizer...
- Determinante? Como assim? Nada te garante que aquelas pessoas vestidas de mulher em Santa Marta o são. Olha, olha... Isso depende! Olha, olha. Sabes lá tu se o cão tem a sua sexualidade determinada! Olha, olha...
- Grunfnh... - disse eu enquanto revirava os olhos - e "cão" é um mamífero domesticável de quatro patas que pode caçar, guardar ou simplesmente fazer companhia.
- Como assim? Então o meu namorado é um cão?
- Percebeste gora o que quer dizer "Vou passear o cão?"
- Como assim?
A estupidologia está a tentar fazer pressão junto do Ministério da Saúde com vista à abertura de um número verde de apoio aos doentes de como-assim. Por enquanto, qualquer esclarecimento que necessitem acerca da sintomatologia desta doença duvidista, por favor façam-na chegar ao nosso email, que trataremos de a reencaminhar imediatamente para um especialista.
Sem comentários:
Enviar um comentário