Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

sexta-feira

Renegado de Boliqueime

Rrrrrrepetir



Eu queria aquele cd. Eu desejava aquele cd. Eu – qual ressacado do haxe – precisava daquele cd.

Tudo começou no metro. Vi um cartaz, depois outro, e outro, e outro, e outro, e outro, que dizia – e outro - « Mandona – Confessions on a dancefloor – Irresistível novo álbum».

Irresistível, li. Irresistível. Aquilo gerou todo um efeito em mim, que me apanhou – não sei se conseguem ter noção - desde o tenencéfalo até ali àquela zona onde fica a medula oblonga.

Mal cheguei a casa, gritei como se não houvesse amanhã: «Ó mãe, ó mãe, compra-me o irresistível novo cd da Mandona»

Ela disse: «Não». E eu insisti: «Vá lá». E ela: «Não». E eu: «Bolas, mãe». E ela: «Mau». E eu: «Mas porquê». E ela: «Levas com o chinelo. Aníbal António.» E eu calei-me.

Depois de uma pausa, disse-me: «Olha, só por causa disso, vais já para o quarto reflectir sobre o teu comportamento desagradável, hmmm?».

Não sei porquê aquilo de ficar fechado no quarto não me pareceu lá muito boa ideia e foi coisa para inclusivamente me causar algum apoquentamento.

«E agora o que é que eu vou fazer?» Habitava em mim todo um conflito interior. Por um lado, a minha mãe. Se me apanhasse a fugir, levava com o chinelo. Por outro, o cd era irresistível.

Ia ficar ali fechado no quarto? E eu disse cá para comigo: «Não». Tirei do armário o porco de loiça, joguei a mão à maçaneta e. Bolas. A minha mãe.

Com as moedas de dois cêntimos a chocalhar, desatei a correr, a correr, a correr, a correr, a correr em direcção à loja e – ó indizível alegria – não é que tinha conseguido adquirir a minha cópia original do novo álbum da Mandona?

Já a espumar de ansiedade, regressei a casa possesso por ouvir o cd que levava escondido no casaco.

Ia eu pôr o cd no leitor quando a minha mãe me diz: «Olha lá, isso que aí pões não ocorre tratar-se do novo álbum da Mandona, pois não?». Respondi: «Não. Já aprendi a lição com aquele castigo de ficar fechado no quarto a reflectir; e olha que me tornei num homem novo».

Mal virou costas, dei play. Aaaah. Tal era o bom do novo cd da Mandona: abri a boca, salivei e revirei os olhos. À falta de limão - é -, não pude evitar um espasmo grave e prolongado.

Nisto, quem entra? A minha mãe. Disse-me:

«Ahaaa. Com que então a ouvir a Mandona, hein? Seu malvado.»

Foi um raspanete e tanto. Que não tinha jeito nenhum a casa parecer uma estação de metro, que não tarda chamava mais alguém da família para gritar "Marquês de Pombal; há correspondência com a linha azul" ou então para fazer o pIII-pIII-pIII-pIII-pIII-CLAaaNnG das portas a fecharem.

«E eu pergunto. Achas isso bem? Hmm? Seu malvado.» - perguntou ela com uma mão na anca e outra a segurar num rolo da massa de alumínio. Anibal António, dá cá isso imediatamente que agora temos que ir jantar». Eu disse: «Não». E ela insistiu: «Maaau». E eu: «Não». E ela: «Olha que eu tenho aqui uma corda». E eu: «Não mandas em mim». E ela: «Ai é?». E amarrou-me a uma cadeira. «Tommmaaaa!», disse antes de trancar a porta à chave.

Sozinho e em silêncio - enfim, qual homem na sua solidão primordial, dominando o horizonte com o olhar enquanto o cabelo esvoaça ao sabor da nortada numa praia de Peniche - ali com o cd pousado à frente, continuei a espumar da boca com alguma intensidade. « Mandona – Confessions on a dancefloor – Irresistível novo álbum».. Irresistível. Irresistível. Irresistível.

O cheiro a batatas a murro no forno, depois de um intenso dia de labuta, de terem passado 14 horas sobre a minha anterior refeição, cerca de meia maçã, e para mais ter que ficar sem jantar, vá, era como o outro. Agora, sem a Mandona é que não.

Quinze dias depois, quando a minha mãe me veio desamarrar, tudo estava ultrapassado. Chiça, lá tinha conseguido vencer a irrestibilidade do cd, hein?, - pá aquela pulsão ênterior, aquele desejo freudiano, como dizer?, aquele leão q'há em nós. Que difícil que tinha sido libertar-me da Mandona. Ufa, aquilo é que foi, hein?

Aqueles quinze dias a pensar na vida amarrado numa cadeira deixaram-me com um ratito no estômago. Quando me dirigi à cozinha, lá estava o rádio ligado e a minha irmã a cantarolar a Rita Guerra, de olhos fechados e de braços ondulantes no ar «Á espera de luuuz, à espera do maaar, à espera do soool...»

Pedi-lhe: «Arranjas-me o mp3?» Ela disse: «Não». E eu insisti: «Vá lá». E ela: «Não». E eu: «Bolas, Jéssica Joana». E ela: «Mau». E eu: «Mas porquê?». E ela: «Olha q'eu tenho aqui um berbequim - e olha que este é daqueles que aleija». E eu calei-me.

terça-feira

Intemporal II

Pérolas da literatura contemporânea

«Quando se preparava para abrir a porta do quarto, ouviu um leve grito vindo do quarto do lado. Depois desse grito, ouviu outro grito, ouviu outro e, logo a seguir, outro mais grave e ainda uma voz masculina a falar inglês. (...) Rute estava a fazer amor com um nativo»



Manuela Fonte, Atracção nos Trópicos

Intemporal

Pérolas da literatura contemporânea

«Os dois corpos (...) faziam uma união mágica (...) como se a humanidade estivesse ali toda concentrada»



Manuela Fonte, Atracção nos Trópicos

Sudoku

Nível de dificuldade:

sexta-feira

O diagnóstico do doente do 204




- Estou sim, bom dia, é da recepção? Eu gostaria de falar com alguém que me desse informações sobre os doentes. Queria saber se determinada pessoa está melhor ou se piorou.

- E qual é o nome do doente?

- Chama-se Paulo e está no quarto 204.

- Um momentinho só que vou transferir a chamada para o sector de enfermagem, sim?



- Bom dia, sou a enfermeira Fátima. O que deseja?

- Gostaria de saber as condições clínicas do doente Paulo do 204, por favor.

- Um minutinho só que vou localizar o médico de serviço, sim?



- Aqui é o Dr. Carlos, de serviço. Ora diga, se faz favor.

- Olá, Sr. doutor. Precisaria que alguém me informasse sobre o estado de saúde do Paulo que está internado há três semanas no quarto 204.

- Concerteza, vou só consultar a ficha do doente. Só um instante, por favor.



- Ora aqui temos: hmm, ele alimentou-se bem hoje, a tensão arterial e a pulsação já estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirado do monitor cardíaco até amanhã. Se continuar assim, o médico responsável dar-lhe-á alta em três dias.

- Ahhhh! Graças a Deus. São notícias óptimas! Que alegria!

- Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família...?

- Não. Daqui é o Paulo. Só queria saber se estava melhor. Entram, saem, entram, saem, entram, saem e não vos oiço a dizer nada...

quinta-feira


Mama, mama.
Papa, papa.
Bebe, bebe.
Fuma, fuma.
Chupa, chupa.
Come, come.

Consome, consome.

Op. cit.



«Jovem:

Tens mais de 18 anos? Gostas de álcool? Piadas porcas? Orgias malucas?
Então esquece, que esta festa não é para ti!

Nesta party vamos rezar. (...) [traz] a tua ostia e a bíblia e junta-te a nós!»

Verbo amandar

No presente do indicativo


Eu amando
Tu amandas
Ele amanda
Nós amandamos
Vós amandais
Eles amandam



No pretérito perfeito do indicativo

Eu amandei
Tu amandaste
Ele amandou
Nós amandámos
Vós amandásteis
Eles amandaram



No pretérito imperfeito do indicativo

Eu amandava
Tu amandavas
Ele amandava
Nós amandávamos
Vós amandáveis
Eles amandavam



No Pretérito Mais-que-perfeito do indicativo

Eu amandara
Tu amandaras
Ele amandara
Nós amandáramos
Vós amandáreis
Eles amandaram



No futuro do indicativo

Eu amandarei
Tu amandarás
Ele amandará
Nós amandaremos
Vós amandareis
Eles amandarão



No condicional

Eu amandaria
Tu amandarias
Ele amandaria
Nós amandaríamos
Vós amandaríeis
Eles amandariam



No presente do conjuntivo

Que eu amande
Que tu amandes
Que ele amande
Que nós amandemos
Que vós amandeis
Que eles amandem



No Imperfeito do conjuntivo

Se eu amandasse
Se tu amandasses
Se ele amandasse
Se nós amandássemos
Se vós amandásseis
Se eles amandassem



No futuro do conjuntivo

Se eu amandar
Se tu amandares
Se ele amandar
Se nós amandarmos
Se vós amandardes
Se eles amandarem



No Infinitivo pessoal

Eu amandar
Tu amandares
Ele amandar
Nós amandarmos
Vós amandardes
Eles amandarem




No gerúndio

Amandando

quarta-feira

Nostalgia



Ai era tão bonito. Dantes, dantes sim, havia felicidade.

Recordo - oh, indizível alegria - a de jogar aos tazos com os colegas da universidade.

"Toma, ganhei-te", costumava dizer. O outro respondia: "Ai é?, ai é?". E baldávamo-nos às aulas para o duelo. Uns traquinas, era o que era.

"Toma, ganhei outra vez", cantava o vencedor enquanto dançava O Lago dos Cisnes. Ai era tão bonito. Dantes, dantes sim, havia felicidade.

E as contínuas juntavam-se. E os professores, e as senhoras da limpeza, e os porteiros.

Inclusivamente desafiavam:"Vá, «amanda» q'eu «amando» a seguir", dizia-me tanta vez a senhora da reprografia. Aquilo sim, era convívio.

Não é como agora que só querem é playstation, só querem é playstation.


Oremos ao Senhor II

«Pai nosso que estais no Céu». Versão erudita

Progenitor nosso, que estais na região supra-terrestre,
santificado seja a designação referenciadora da sua identidade,
venha a nós o vosso espaço supra-ideológico,
seja posta em prossecução a vossa intencionalidade,
assim no terceiro planeta do Sistema Solar como na região supra-terrestre.

O condensado cozido de cereais nosso cada dia nos atribuí hoje,
procedei ao olvidamento das nossas acutilâncias prejudicadoras,
assim como nós procedemos com quem tem nos tem prejudicado;
e não nos deixeis cair em degenerescências sensoriais,
mas afastai-nos do unanimememte tido como reprovável.

Amém.

Oremos ao Senhor I

«Pai nosso que estais no céu». Versão Arrentela

Cota do people, que estás no Sky,
venerado seja o Teu tag,
venha a nós a Tua dreadzone,
seja feita a Tua cena,
assim na Musgueira como na Rotunda do Relógio.

O BigMac nosso cada dia dá-nos hoje,
perdoa as nossas má-filas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem feito esperas;
e não nos deixes que nos lixem,
mas livra-nos do atrofio e quê.

Yó.

Momento de humor

Com tecnologia do Blogger.

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