Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

terça-feira

Pelo sim pelo não



Sim porque isto, não porque aquilo. Quando não tenho nada para fazer e estou para o aborrecido, divirto-me, quase à brava, a ouvir pessoas a discutir acaloradamente sobre o aborto. "A vida começa no momento X". "Não é nada, é no ponto Y"; "As mulheres abortam porque devem ter direito a controlar a sua vida"; "As mulheres abortam porque não têm condições, duh"; "Parvo". "Estúpido". E de maneiras que é um referendo que vai mudar muita coisa. Quando o SIM ganhar terá lugar todo um vasto conjunto de alterações.

1. "Antes havia abortos. Depois passarão a haver interrupções voluntárias da gravidez".

Consideração pessoal: A terminologia trará elegância à nossa língua. Quando vemos uma pessoa feia dizemos dasagradavelmente que é um aborto e não uma interrupção voluntária da gravidez. Injusto. Um ponto para o SIM.

2. Antes, na maioria dos casos, a mulher era criminosa e tinha tendência para desenvolver sentimentos de culpa. Depois, passarão apenas a ter tendência para desenvolver sentimentos de culpa.

Consideração pessoal: Aaah - alívio! É um peso muito menor. Dois pontos para o SIM.

3. Antes, a maioria dos médicos recusava-se a fazer abortos, invocando o Juramento de Hipócrates. Depois, a maioria dos médicos passou recusar-se a fazer interrupções voluntárias da gravidez, invocando o Juramento de Hipócrates.

Consideração pessoal: Por um lado, para além de se poder abortar em caso de perigo de vida da grávida e do feto, uma mulher que entenda não ter um filho naquele momento estará salvaguardada perante a lei e a sociedade, até às 10 semanas. Por outro, os médicos do sector público recusam-se quase todos a praticar o aborto, por vezes mesmo nos casos extremos. Os dois têm direito a fazer o que a consciência lhes manda. A lei existirá. As filas de espera também. Empate.

4. Antes havia centros de saúde, clínicas e hospitais. Depois, passarão a haver "estabelecimentos de saúde legalmente autorizados"

Consideração pessoal: As mulheres de classes socio-económicas desfavorecidas que entendam abortar poderão não apenas recorrer ao serviço nacional de saúde como também a "estabelecimentos de saúde legalmente autorizados". Ou seja, privados. O público oferece a possibilidade legal, mas demorará na execução efectiva. O privado resolve, mas é caro. Toda uma escolha: ou privado, ou privado. Um ponto para o NÃO.

5. Antes, era preciso ir a Espanha. Depois, passa a ser possível também em Portugal.

Consideração pessoal: Há comodidade para o utente. Claramente, três pontos para o SIM.

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