Disse Ang Lee em resposta às "vozes do preconceito" que se levantaram em torno do filme Brokeback Mountain, a história de dois cobóis que se apaixonam:
«Pois que sim, que se trata de um filme que testa os "limites ilimitados" do Amor, que pretende falar do Amor de forma universal e sem preconceitos, portanto não vejo razão para tanta celeuma».
Claro que o que pretendia não era que o filme ressaltasse no meio do ruído competitivo de tanto cinema. Não. Alguma vez? Evidente que, qual empreendimento humanista e caridoso, era isso de combater os - ai, como é que se diz? - preconceitos.
Por isso, pergunto eu: para quando a sequela?
Aventando como seria: eles separavam-se porque um deles conhecia no decurso da sua vida outro ser especial. Um ser que - como dizer? - o incendiava de paixão. A tal ponto que um dia, ele decidiria ter uma conversa de cobói para cobói com o seu companheiro.
« - Amor, temos que falar sobre a nossa relação»; « - Que foi? Há outra pessoa?»; «- A Mimosa do celeiro, a mais malhadinha»; «- Como pudeste? Com uma vaca? Seu tarado»; « - Mas eu, mas-mas-mas... mas eu gosto dela...», e enfim, seguir-se-ia toda uma trama dramática, até à resolução do conflito interior do pobre cobói reprimido pelo mundo: a cena do fogoso beijo de paixão, do beijo do cobói e da vaca.
Do binómio homem-homem passar-se-ia para o binómio homem-vaca.
Nisto, dirão vocês, pessoas perfeitamente integradas no seio da sociedade contemporânea, enfim, com elevados índices de adaptação às normas sociais vigentes: «Ai que horror. Uma vaca? Ai que horror. Mas que javardice vai nessa cabeça? Que sem-vergonhiçe barata. E [ressaltaria entretanto a vossa veia cinéfila] não se trataria isso da sujeição de uma personagem humana a uma situação limite com níveis de inverosimilhança demasiado elevados?».
E eu responderia, como Ang Lee : «Pois que sim, que se trata de um filme que que testa os "limites ilimitados" do Amor, que pretende falar do Amor de forma universal e sem preconceitos, portanto não vejo razão para tanta celeuma».
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